ABIMDE
Por Anastacio Katsanos
As abelhas, os cupins e as formigas são conhecidos como insetos sociais. Individualmente, eles são minimamente inteligentes e fracos, e seus movimentos às vezes parecem erráticos. No entanto, em conjunto os enxames ('swarms') destes insetos operam auto-organizados e sem supervisão. Coletivamente, eles são capazes de encontrar soluções altamente eficientes para problemas difíceis e podem se adaptar rapidamente a mudanças no ambiente. Conseguem construir ninhos, buscar alimento, cuidar da ninhada, alocar trabalho, fazer pontes e até combater seus inimigos, sem uma liderança clara. Ao longo dos últimos 20 anos, vários pesquisadores desenvolveram modelos matemáticos rigorosos para descrever o comportamento dos animais sociais, no que foi denominado de 'inteligência coletiva', e agora estas descobertas estão sendo aplicadas ao ambiente de negócios das empresas e no segmento de defesa. Estas pesquisas estão agora sendo reproduzidas em redes de computadores, organizações e até frotas de veículos não tripulados. As pesquisas ajudaram várias empresas a desenvolver formas mais eficientes para agendar o uso de equipamentos nas fábricas, a divisão de tarefas entre trabalhadores, organização de pessoas, e até mesmo na criação de cenários estratégicos. Os estudos de inteligência coletiva permitiram o desenvolvimento de algoritmos que foram introduzidos em redes de computadores aumentando a capacidade de 'inteligência' dos mesmos. Quando introduzidos em pequenos veículos não tripulados, foi possível a operação de grande número dos mesmos com um comportamento de enxame, com vários veículos desempenhando funções complementares e não conflitantes e com resultado final mais positivo que o obtido por veículos de maiores dimensões e complexidades.
Esta evolução levanta algumas questões importantes: Como se luta contra um enxame de drones? Como é que alguém controla um enxame? Enxames de veículos não tripulados descartáveis e de baixo custo poderiam mudar a forma como os militares lutam? Quais são as suas fraquezas e vulnerabilidades?
Um olhar na evolução histórica dos conflitos pode ajudar a lançar luz sobre algumas destas questões. Ao longo da história podemos identificar quatro doutrinas de conflito: corpo a corpo, massa, manobra e, agora, 'swarming', o comportamento de enxame.
Ao longo do tempo, organizações militares incorporaram avanços nas comunicações, informações, treinamento e organização social, e foram capazes de lutar de formas cada vez mais sofisticadas, aproveitando as formas doutrinárias mais avançadas, com cada evolução superior à anterior. Hoje os militares predominantemente conduzem guerra de manobra.
Exemplos de todas as quatro formas, incluindo 'swarming', podem ser encontrados desde a Antiguidade, mas o uso generalizado de formas superiores de guerra não ocorreu até que inovações sociais e de informação, tais como ordens escritas, bandeiras de sinal e comunicação de rádio, permitiram operações coerentes de massa e manobra. No 'swarming', um grande número de indivíduos ou pequenos grupos dispersos coordenam as suas ações para lutar como um todo coerente. Os EUA já usam táticas de 'swarming' pelo menos desde 2001, quando 300 soldados das forças especiais foram lançados em vários pontos do Afeganistão e conectados por redes de comunicação entre eles e aviões de ataque, rapidamente dominaram o terreno. Em 2014, a marinha dos EUA demonstrou as capacidades de um 'swarm' de pequenos barcos fluviais não tripulados e a 'Naval Postgraduate School' demonstrou capacidades de controle durante um 'dogfight' entre dois enxames de 50 drones cada.
O 'swarming', portanto, combina a natureza altamente descentralizada de combate corpo a corpo com a mobilidade de manobra e um alto grau de organização e de coesão, permitindo que um grande número de elementos individuais para lutar coletivamente. O 'swarming' tem exigências diferentes de organização e comunicação do que a guerra de manobra, uma vez que o número de manobras simultâneas de elementos individuais é significativamente maior.
O uso de 'swarming' é uma tática difícil de empregar com pessoas, mas é ideal para sistemas robóticos. O crescente nível tecnológico permite níveis de autonomia elevados em sistemas não tripulados de baixo custo.
Alguns exemplos de emprego são o ataque coordenado, onde enxames de drones saturariam as defesas inimigas, com ondas de ataques de múltiplas direções simultaneamente. Enxames de pequenas embarcações poderiam defender navios de superfície contra ataques de lanchas rápidas. Os enxames podem ser usados para vigilância de grandes áreas, manutenção de redes de comunicação militar e uma logística resiliente no campo de batalha. Enxames de veículos robóticos podem ser usados para operações de dissimulação de grande escala, realizando falsas manobras para enganar as forças inimigas. Sistemas robóticos podem aproveitar 'inteligência coletiva' por meio de mecanismos de voto distribuídos, o que poderia melhorar a identificação do alvo, a precisão de geolocalização, e proporcionar uma maior capacidade de resistência as contramedidas inimigas.
O 'swarming' vai exigir novos conceitos de operação e várias mudanças de paradigma para os militares. No entanto, mudanças de paradigma na guerra, em última análise derivam não apenas de uma nova tecnologia, mas a combinação de tecnologia com a nova doutrina, organização e conceitos de operação.
O 'swarming' é a próxima evolução da doutrina de combate.
Fonte: Revista Força Aérea
Edição Nº 94
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